Por
Dr. Adgar Bittencourt*
Recebi um telefonema, na quarta feira de cinzas, ao entardecer:
- Você arruma um médico? Precisamos de um atestado de óbito. O “Gonga” morreu!
Sabe, quando você está desligado da vida, alegre pelo carnaval que passou, feliz ao final de mais um dia de trabalho; aliás, meio dia! E tome água fria!
A notícia do passamento do Luiz Gonzaga de Lima me pegou como um soco na boca do estômago! Liguei para um médico amigo e saí pulando degraus em busca do local onde o corpo jazia à espera de documentação para ser removido. Dali em diante foi chegar, encontrar o corpo estirado no chão da cozinha de um apartamento do terceiro andar; uma pá de gente no entorno: uns telefonando, outros sussurrando; algumas mulheres em choro baixo.
Conferi a causa: o companheiro, aos 65 anos, safenado, com síndrome metabólica, tinha subido por duas vezes as escadas íngremes, com malas bem acima de sua capacidade. Da segunda vez, deu um suspiro, sentou-se na beira do sofazinho e despediu-se da vida, com a máquina circulatória estourada. O corpo jazia sem camisa, apenas bermudas, e uma grande mancha azul-escuro foi tomando conta de seu peito, pescoço, cabeça!
- Realmente a viagem do “Gonga” rumo ao nada começara! - pensei com meus botões de ateu.
Conheci o Luiz Gonzaga de Lima nos idos de setenta. Ex-padre, professor de humanidades, poeta e gozador. Veio para a região na esteira de outros tantos professores para organizar o ensino superior; por aqui na Fundação Universitária do Oeste Catarinense – FUOC; e no Alto Uruguai, na FEAUC. Nas quatro décadas em que nos esbarrávamos, de vez em quando, encontrar com o sujeito tinha a ver com um cumprimento alegre ou uma boa risada. Tratava-se de uma pessoa mansa, de boa índole, admirado por seus alunos, considerado pelos colegas de trabalho, amado pelas mulheres. Ultimamente, com a família na capital, exercia funções na reitoria da UNOESC e encarregava-se dos assuntos internacionais, convênios de intercâmbio, a serviço dos acadêmicos. Foi prestando serviços de alojamento para duas intercambistas chilenas que, como bom maleiro, encerrou seus dias por esse vale de lágrimas. Morreu de utilidade para nos deixar uma sensação de contida saudade.
Rapidamente, obtivemos o atestado de óbito, encomendamos os funerais. Escolhi para ele uma urna dourada, um terno preto, camisa branca com gravata social, uma coroa de homenagem do reitor e de seus amigos. Já exposto na sala da funerária, em vestes de cerimônia, rodeado de flores e rendas, o rosto pacificado, o “Gonga” me pareceu pronto para se apresentar ao Todo Poderoso. Devidamente empacotado, dissemos por ele um “Pai Nosso”, ouvimos a Ave Maria de “Gounod” cantada por uma colega e aplaudimos a sua passagem por esse mundo. Partiu em grande gala para as exéquias na capital.
- Certamente, nem baterá no portal da eternidade! - pensei. Na sua celestial dignidade São Pedro dirá, batendo com seu cajado no gongo de chamar anjo, o convite reservado aos poetas:
- Entre, professor Luiz Gonzaga de Lima!
- Licença, meu santo! - responderá o “Gonga”, como nos versos de Manuel Bandeira.
- “Gonga”, aqui você não precisa pedir licença!
* Escritor e membro da ACO
https://mail.unoesc.edu.br/src/compose.php?send_to=adgar.bittencourt%40unoesc.edu.br
Recebi um telefonema, na quarta feira de cinzas, ao entardecer:
- Você arruma um médico? Precisamos de um atestado de óbito. O “Gonga” morreu!
Sabe, quando você está desligado da vida, alegre pelo carnaval que passou, feliz ao final de mais um dia de trabalho; aliás, meio dia! E tome água fria!
A notícia do passamento do Luiz Gonzaga de Lima me pegou como um soco na boca do estômago! Liguei para um médico amigo e saí pulando degraus em busca do local onde o corpo jazia à espera de documentação para ser removido. Dali em diante foi chegar, encontrar o corpo estirado no chão da cozinha de um apartamento do terceiro andar; uma pá de gente no entorno: uns telefonando, outros sussurrando; algumas mulheres em choro baixo.
Conferi a causa: o companheiro, aos 65 anos, safenado, com síndrome metabólica, tinha subido por duas vezes as escadas íngremes, com malas bem acima de sua capacidade. Da segunda vez, deu um suspiro, sentou-se na beira do sofazinho e despediu-se da vida, com a máquina circulatória estourada. O corpo jazia sem camisa, apenas bermudas, e uma grande mancha azul-escuro foi tomando conta de seu peito, pescoço, cabeça!
- Realmente a viagem do “Gonga” rumo ao nada começara! - pensei com meus botões de ateu.
Conheci o Luiz Gonzaga de Lima nos idos de setenta. Ex-padre, professor de humanidades, poeta e gozador. Veio para a região na esteira de outros tantos professores para organizar o ensino superior; por aqui na Fundação Universitária do Oeste Catarinense – FUOC; e no Alto Uruguai, na FEAUC. Nas quatro décadas em que nos esbarrávamos, de vez em quando, encontrar com o sujeito tinha a ver com um cumprimento alegre ou uma boa risada. Tratava-se de uma pessoa mansa, de boa índole, admirado por seus alunos, considerado pelos colegas de trabalho, amado pelas mulheres. Ultimamente, com a família na capital, exercia funções na reitoria da UNOESC e encarregava-se dos assuntos internacionais, convênios de intercâmbio, a serviço dos acadêmicos. Foi prestando serviços de alojamento para duas intercambistas chilenas que, como bom maleiro, encerrou seus dias por esse vale de lágrimas. Morreu de utilidade para nos deixar uma sensação de contida saudade.
Rapidamente, obtivemos o atestado de óbito, encomendamos os funerais. Escolhi para ele uma urna dourada, um terno preto, camisa branca com gravata social, uma coroa de homenagem do reitor e de seus amigos. Já exposto na sala da funerária, em vestes de cerimônia, rodeado de flores e rendas, o rosto pacificado, o “Gonga” me pareceu pronto para se apresentar ao Todo Poderoso. Devidamente empacotado, dissemos por ele um “Pai Nosso”, ouvimos a Ave Maria de “Gounod” cantada por uma colega e aplaudimos a sua passagem por esse mundo. Partiu em grande gala para as exéquias na capital.
- Certamente, nem baterá no portal da eternidade! - pensei. Na sua celestial dignidade São Pedro dirá, batendo com seu cajado no gongo de chamar anjo, o convite reservado aos poetas:
- Entre, professor Luiz Gonzaga de Lima!
- Licença, meu santo! - responderá o “Gonga”, como nos versos de Manuel Bandeira.
- “Gonga”, aqui você não precisa pedir licença!
* Escritor e membro da ACO
https://mail.unoesc.edu.br/src/compose.php?send_to=adgar.bittencourt%40unoesc.edu.br